Por Rogier Menezes – Coordenador Pedagógico da 8ª CRE
Felizmente, nos últimos dias, nos cotidianos das escolas, no conjunto dos segmentos que a compõem, nas comunidades, no seu entorno, um debate está tomando importância ímpar. Debate esse que dialoga sobre a qualidade da educação que o Estado oferece a maioria dos filhos do povo, através da escola pública; entre verdades e mentiras as afirmações vão desde o desconhecimento da proposta até a má fé, levado a cabo por uma escola conservadora, autoritária, excludente em aliança com setores avançados, mas que estão apenas pautando condições salariais dos professores (que é necessário e pertinente), mas que não podemos misturar desta forma com a pauta pedagógica.
Estamos hoje, falando de um ensino médio que nos aponta, através de seus indicadores, para uma necessária e urgente reformulação, considerando os índices preocupantes (beirando os 50%) de insucesso, precariedade em algumas escolas da estrutura física, precarização do trabalho do professor (hora/trabalho-excesso de contratos emergenciais/baixa oportunidades de formação inicial e continuada), além de necessária aproximação da rede estadual com as diretrizes da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).
Entendendo o ensino médio como continuidade da etapa de estudos, espaço de aprofundamento da formação das áreas de conhecimentos, hoje ele não prepara, não forma, não constrói uma identidade no indivíduo e nem prepara, seja para a continuidade dos estudos (Ensino superior, tecnólogo), seja para a vida, em ambos os casos articulando com o mundo realmente existente, ou seja, hoje no conjunto da rede temos um conhecimento fragmentado, dissociado da realidade, distante dos avanços tecnológicos da informação e da comunicação, enfraquecido, portanto de sentido.
Quando se diz que o novo ensino médio terá o trabalho como princípio educativo, se quer colocar, o trabalho como centralidade na vida humana, ou seja, foi, é e será o trabalho estruturante dos modelos de sociedade humana no passado, presente e futuro, porque as derivações dele, determinam as relações sociais, econômicas e políticas de nossas sociedades. Isso sob qualquer hipótese NÃO quer dizer qualificação da mão-de-obra para o mercado. Portanto o TRABALHO nesse caso é SUBSTANTIVO e não VERBO.
O conceito de POLITECNIA, não é sob hipótese nenhuma, fazermos escolas técnicas nas escolas regulares da rede, pois existem as escolas técnicas da rede estadual. Mas significa sim, diferentemente da POLIVALÊNCIA que são técnicas aplicadas para o FAZER, darmos acesso ao processo de construção e aplicabilidade do conhecimento humano, a partir do conteúdo de sala de aula, ou seja, criar condições para que o estudante PENSE E FAÇA, constituindo daí uma formação integral, sólida de todas as áreas do conhecimento e não só de algumas. Isso é necessário dizer que necessita ser enriquecido com princípios norteadores por parte das escolas: Relação parte-totalidade; Reconhecimento de Saberes; Relação Teoria-Prática, Interdisciplinaridade; Avaliação Emancipatória e; Pesquisa-ação.
Nesta caminhada constatamos que a maioria das escolas já vem implementando atividades além da carga horária, seja através de seminários temáticos, seja experiências interdisciplinares, seja em feiras (de ciências, literatura, comunicação...), a diferença é que a partir do próximo ano será considerado hora/aula tanto para o professor como para o aluno. O que vem a somar com a proposta e não contradizer.
A caminhada apenas começou, o primeiro passo culminará em dezembro deste ano, com a Conferência Estadual do Ensino Médio em Porto Alegre , momento em que construiremos um documento síntese da proposta da SEDUC e das contribuições da nossa rede, e estaremos dando os próximos passos a partir do ano letivo de 2012, com formação para os professores, com espaços de reflexão das nossas práticas dentro da rede quando estaremos qualificando para o futuro os próximos passos de uma grandiosa e excepcional caminhada.
A proposta de reestruturação do ensino médio, portanto vem ao encontro de um sentimento consensual na rede estadual e na sociedade, de mudarmos ou buscarmos mudanças no método, de ressignificar a escola, o ensino médio, o professor e o aluno e promover através da escola pública um espaço dinâmico, produtivo e qualificado que possa ser acessado pela maioria da população que vive em um mundo diferente de 50 ou 60 anos atrás, que lança novos desafios, que tem novas tecnologias e que precisa de um ser humano preparado desde a escola para viver e sobreviver na democracia.